domingo, 4 de março de 2012

ASSALTO: Relatório mostra que Barcas S/A faz dupla cobrança de itens na tarifa como renovação e ampliação da frota

O estudo técnico sugere que a empresa exclua da fórmula tarifária os custos da ‘renovação e ampliação da frota’, já que os gastos com estes quesitos já estão embutidos em outros, como ‘depreciação, aumento das receitas e ganhos de escala’. 


Na página 109 do documento, o tópico ‘Críticas e Sugestões’ diz, entre outras coisas, que “não cabe a inclusão de valor nas tarifas para expansão da frota porque (...) os mecanismos contábeis e financeiros existentes e em uso já seriam suficientes para assegurar o financiamento e remuneração da expansão”.

Se a Barcas retirar esses custos do cálculo, algumas passagens chegariam a redução de até 50%, como Mangaratiba-Abraão. No caso de Rio-Niterói, o impacto não seria sentido devido ao volume de passageiros. Mas a sugestão do estudo é que a tarifa ficasse em R$ 3,18, como mostrou nesta sexta-feira O DIA. Procuradas, a Agetransp e a Barcas S.A. não comentaram.

Na segunda, o Ministério Público de Niterói vai cobrar do governo explicação para o aumento. No mesmo dia, deputados do PSOL vão ao Tribunal de Justiça questionar liminar que prevê multa para o partido e militante contra o aumento da tarifa.

R$ 782 a mais em um ano

A diferença cobrada pela Barcas a partir de hoje vai pesar no bolso de quem usa o serviço. Em um ano com 230 dias úteis, o passageiro gastará R$ 782 a mais com transporte de ida e volta. Isso, se pagar os R$ 4,50 da tarifa cheia. Se tiver o Bilhete Único, o preço cai para R$ 3,10, mas ainda assim representa um gasto a mais: R$ 138 além da antiga conta de R$ 1.288.

“Por não terem concorrência, fazem o que bem querem com a gente”, indignou-se o consultor de sistemas Pedro Pedroza, 30. “Vou acabar fazendo o Bilhete Único para fugir desse assalto”.

“Meu lazer acaba prejudicado. É o dinheiro do jantar, do cinema”, disse o estudante Pedro Ernesto, 22, que recebe no estágio R$ 105 de ajuda de custo e terá de inteirar R$ 25 a cada mês. Opinião semelhante tem a advogada Rosa Menezes, 34: “Faz diferença até na compra do mercado”.

Os usuários reclamam que os serviços não condizem com o reajuste. “Não tem ar, não tem organização. É só fila e confusão. Daqui a pouco teremos que vir trabalhar nadando”, ironizou o auxiliar de cartório Raphael Muniz, 29.

Matéria originalmente publicada no jornal O Dia Online