domingo, 9 de novembro de 2014

Eleições 2014: Eleitor que não votou tem até 26 de dezembro para regularizar situação

As eleições não são a oportunidade de mudar a realidade do país. Não é depositando 100% das esperanças no voto que exercemos a cada 2 anos, que vamos alterar essa realidade no Brasil. O voto obrigatório no Brasil só serve para o cidadão eleger, não serve para interferir, mudar ou atender as demandas da sociedade. Isto porque, as máfias político-partidárias se apropriaram do processo político-eleitoral no país, fazendo das eleições apenas momentos para legitimarem a sua sobrevivência e a sua permanência no poder. O voto no Brasil só serve pra isso e mais nada. 

Imagem: Reprodução / Agência Brasil

Nas grandes democracias como França, Inglaterra e EUA a atitude de votar, além de ser facultativa, serve também para decidir incontáveis demandas sociais, simultaneamente, no mesmo processo eleitoral. Até na Venezuela do ditador Nicolás Maduro é assim. Aqui, o voto só serve para eleger os candidatos que, uma vez eleitos, se tornam intocáveis. Tornam-se uma casta na qual ninguém pode chegar perto, ninguém pode prender, ninguém pode tirar do poder etc e tal.

É claro que nós não temos alternativa à política como meio de equilibrar nossas relações e evitar que nos devoremos, porque é a política que faz com que a gente organize o caminho coletivo. Mas, nós temos alternativa à essa política praticada no Brasil. Nós não temos, também, alternativa aos políticos como sociedade e aos partidos dos quais afloram. Mas, nós temos alternativa a esses políticos e a esses partidos que temos aqui. Partidos que foram transformados em máfias que disputam, única e exclusivamente, o controle do Estado. Não para transformá-lo, direcioná-lo e torná-lo num instrumento cada vez mais eficaz de atendimento ao cidadão, não. Mas, para ser o lugar do qual eles tiram a grana, a corrupção, a propina do empreiteiro, o jatinho da FAB pra implantar cabelo. A boca pra nomear o ministro amigo, o genro ladrão, a amante pelancuda e por aí vai.

Nós não temos alternativa à política como sociedade, mas temos alternativa a esta política que fazem no Brasil. Não temos alternativa aos políticos e aos partidos, mas temos alternativa ao que os políticos e os partidos se transformaram no Brasil. Pra isso, claro, precisamos pensar utopicamente. É preciso que a legislação política seja modificada para que eles percam poder e imunidades, fazendo com que o poder da sociedade se torne mais efetivo nas casas legislativas, criando mecanismos que permitam ao cidadão intervir diretamente em seus mandatos. Mecanismos que permitam aos eleitores retirarem do poder políticos corruptos, incompetentes e vagabundos. "Esse aí nos enganou, não presta, rua!!!"

Vários países têm legislações que permitem esse tipo de depuração do processo político-partidário das casas parlamentares. Aqui no Brasil isso não existe, aqui os políticos e os partidos são cidadelas blindadas ao poder da população e do próprio voto. O voto aqui só serve para elegê-los.

Nós não exercemos a cidadania no Brasil votando, somos apenas votantes, não participamos de nada que modifique, para melhor, o nosso cotidiano. Temos apenas o direito de exercer a nossa ‘votatania’. Essa incapacidade de interferir no processo, faz com que sejamos meros revalidadores desta política ineficiente, sem controle e sem vigilância. Os políticos só fazem o que querem e quando querem, eles não sofrem nenhum tipo de cobrança ou condenação quando erram.

É preciso mudar a legislação política. É preciso diminuir o poder dos políticos e aumentar a capacidade efetiva de interferência do eleitor no mandato do parlamentar e nas casas legislativas. Enquanto não subordinarmos essa gente à vontade popular, nada vai mudar. O modelo político-eleitoral brasileiro não corresponde aos direitos e aos anseios do povo. As eleições, no Brasil, não mudam a realidade, apenas legitimam o atual processo corrupto da política brasileira.

É só olhar o que mudou nas últimas 20 eleições no Brasil. O que mudou? Diminuiu a corrupção e a violência? Melhorou a educação e a saúde? O país viveu 10 anos de absoluta prosperidade na economia. Agora, pergunto o seguinte: A realidade social da população brasileira melhorou na proporção, mínima, que deveria se houvesse esse desejo político? Claro, que não! Esses programas sociais do governo são migalhas da riqueza nacional. A população vive numa situação avassaladora de indigência e miséria. É só chover pra gente ver! É só entrar no hospital público pra gente ver! Cadê o médico? Cadê o remédio? Cadê a vaga na escola? Cadê o material escolar? É isso. O país não mudou como deveria ter mudado. Em 30 anos melhoramos o quanto e o que? Está de bom tamanho? Claro, que não está!

O Estado brasileiro na visão dos políticos e dos partidos, aos quais estão filiados, não representa um instrumento para ajudar a sociedade a se organizar e trilhar um caminho de prosperidade, nunca foi. Para os partidos e para as máfias políticas, o Estado brasileiro representa apenas um duto de dinheiro. Eles não querem o poder porque o poder permite alterar a realidade e conduzir o Estado numa direção diferente, não. Eles nunca quiseram isso. Pergunto a você o seguinte: Em que direção a canalhada política conduz o Estado brasileiro, independentemente, dos partidos que integrem? Em nenhuma. O jogo deles é a mera gestão do cotidiano. É a mesma porcaria.

Neste país, os partidos fingem ser sérios antes de chegar ao poder. Enquanto fazem parte da oposição, todos são politicamente corretos. Depois que chegam lá, se acumpliciam com aquelas práticas e com aqueles esquemas corruptos da máquina pública, pecando pela omissão ou pela parceria promíscua. Assim foi com o PT antes de ser governo, e assim será com todos os outros partidos, porque neste modelo político vigente é assim que a banda toca.

Os políticos fazem com o Estado brasileiro aquilo que fazem com as prostitutas que, eventualmente, levam em suas viagens oficiais camufladamente. O Estado serve pra eles como coito cotidiano. Os enriquece, enriquece seus sócios, seus parceiros, seus parentes, seus genros, seus filhos, suas amantes e por aí vai. Vossas Excelências querem, através das eleições, é permanecer no poder, só isso. Porque é do aparato estatal que brotam, aos milhões, os recursos públicos que servem para alimentar essas máfias que os deixam cada dia mais ricos, ousados e prepotentes.

É preciso fazer uma quebra na lógica e no ritmo com que as coisas acontecem no Brasil. E essa ruptura só vai acontecer se o povo for às ruas como foi em junho e julho de 2013. O movimento popular precisa radicalizar, sim. E o seu alvo tem que ser o Estado e seus agentes. Por isso, defendo a invasão da Câmara de Vereadores, da Assembléia Legislativa e do Congresso Nacional. Enfim, defendo a tentativa de invasão ordeira de qualquer palácio pelo movimento popular, porque entendo que isso é legítimo e faz parte do jogo democrático.

A única forma de alterarmos essa realidade, é com o crescimento, o adensamento e a radicalização do movimento popular nas ruas. Só ele os fará mudar. Notem, não se trata de um ataque à instituição, à democracia e ao princípio da representação parlamentar. Trata-se de um discurso aplicado à realidade brasileira.

Eleições 2014: Pezão vence no Rio, mas soma dos votos brancos, nulos e abstenções supera sua votação

Eleito governador com 4.343.298 votos, Luiz Fernando Pezão (PMDB), venceu Marcelo Crivella (PRB), que teve o apoio de Anthony Garotinho (PR) e Lindberg Farias (PT), mas teve menos votos do que o total de votos brancos, nulos e abstenções, que juntos representaram 4.348.950 votos. (Extra Online)

Imagem: Reprodução / Extra Online

— O governador "eleito" no Rio de Janeiro chama-se brancos, nulos e abstenções. Este candidato obteve 4.348.950 votos. Pezão se elegeu com 4.343.298 votos, ou seja, 5 mil votos a menos. No primeiro turno, os votos brancos, nulos e abstenções, também somados, venceram com grande folga. Foram 4.140.00 votos contra 3.242.000 votos do 1º colocado Luiz Fernando Pezão.

Isso mostra que a legitimidade de Pezão, ainda que reeleito no jogo deles, é uma legitimidade que pode ser questionada pela maioria de eleitores do Estado do Rio de Janeiro que não viram, nesse processo, motivo ou razão para votar em nenhum deles. Nem Pezão, nem Crivella. Muito menos Garotinho e muito menos ainda Lidberg Farias, outra figura patética desse processo.

Alô, Pezão!!! Isso é um recado muito mais significativo do que a sua vitória. O recado de que, no seu Estado, a maior parcela da população escolheu não votar no senhor e em ninguém. Pezão, você não representa a população do Rio de Janeiro, entendeu. Você não nos representa!!! Nem você, nem o Crivella e nem os outros gaiatos que disputaram esse pleito com o senhor.

E agora, como não lidar com o fato de que, tanto no 1º quanto no 2º turno, os votos brancos, nulos e abstenções superaram o número de votos válidos do senhor Pezão!!! Como não reconhecer que isso é uma resposta ou um repúdio ao que vocês representam, ao que vocês fazem e ao que vocês são!!! Isso é um recado viu, Pezão!!! Viu, Sérgio Cabral!!! Viu, deputados!!! Viu, vereadores!!! Viu, prefeito!!! Isso é um recado!!!

Eleições 2014: Rio tem recorde de votos brancos e nulos entre estados no segundo turno

RIO — No segundo turno, o Rio foi o estado que contabilizou a maior quantidade de votos nulos e brancos. Os nulos somaram 13,96%, e colocaram o Rio à frente do Rio Grande do Norte, com 12,78%. Já os votos em branco somaram 3,39% dos votos fluminenses, 0,27 pontos percentuais a mais que o Rio Grande do Sul, segundo lugar na modalidade. A média da eleição presidencial foi de 1,71% de votos brancos e 4,63% de nulos. Já o recorde de abstenções ocorreu em Rondônia, onde foram registradas 24,35% de ausência nas urnas. O Rio teve 22,36%. 

Imagem: Reprodução / Extra Online

Para o cientista político Eurico Figueiredo, diretor do Instituto de Assuntos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF) , elementos da disputa ao governo do Rio explicam esses números. Na visão dele, a série de ataques entre Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB) vista nos debates resultou na desconstrução dos candidatos e causou a substituição da “esperança pelo ceticismo”. Os apoios de Pezão e Crivella — alvo de trocas de acusações entre os dois — também pode explicar esses índices.

— No Rio de janeiro foi particularmente sentida a questão da moralidade na politica. Houve o sentimento que todos são farinha do mesmo saco. No caso do estado, houve por um lado em relação ao governador eleito Pezão por causa da sua ligação com o governado Sérgio Cabral. Por outro lado, houve uma descrença do senador Crivella por sua ligação com igrejas pentecostais. E também sobre as acusações que foram trocadas nos debates sobre um e outro.

Reprodução: Extra Online

Eleições 2014: Com mais de 56% dos votos válidos, Pezão é eleito governador do Rio

Estamos vivendo a segunda semana de uma "nova era". A segunda semana de um Rio de Janeiro novo, segunda semana de um Rio de Janeiro que vai mudar, segunda semana do Rio de Janeiro paraíso, segunda semana do Rio de Janeiro solução dos problemas, segunda semana do Rio de Janeiro consciente e por aí vai. Estamos vivendo, portanto, nesta segunda semana uma "nova realidade". Até o dia 26 de outubro vivíamos a expectativa de saber quem conduziria essa "nova realidade" prometida pelos candidatos durante toda a campanha eleitoral.

Imagem: Reprodução / Jornal do Brasil

Tenho a impressão de que não vai acontecer nada. Não é por causa do Pezão, acho que não aconteceria nada também se fosse o Crivella. Tenho sérias dúvidas se fosse Garotinho ou Lindberg. Sabe porquê? Porque acho que não é pela via eleitoral, como está colocada aqui no Brasil, que nós vamos conseguir as mudanças que queremos. Mas sim pelo crescimento dos movimentos populares de massa nas ruas. É pelo bafo no cangote da classe política. Não é seu partido contra o meu, não sou eu contra você. Somos nós dois entendendo que os políticos são a mesma coisa, representam os mesmos valores, o mesmo jogo e a mesma lógica. Somos nós dois entendendo que isso não nos interessa mais.

Tenho pouca esperança de que Pezão representará uma mudança nesse status que tanto nos aflige. Como não creio que Crivella pudesse fazê-lo ou quisesse fazê-lo.

Eleições 2014: Dilma Rousseff é reeleita presidente do Brasil com 54,5 milhões de votos no segundo turno

Estamos vivendo a segunda semana de uma "nova era". A segunda semana de um Brasil novo, segunda semana de um Brasil que vai mudar, segunda semana do Brasil paraíso, segunda semana do Brasil solução dos problemas, segunda semana do Brasil consciente e por aí vai. Estamos vivendo, portanto, nesta segunda semana uma "nova realidade". Até o dia 26 de outubro, vivíamos a expectativa de saber quem conduziria essa "nova realidade" prometida pelos candidatos durante toda a campanha eleitoral. Essa escolha foi decidida soberanamente pelos eleitores brasileiros, numa votação apertada como nunca havíamos visto.

Imagem: Reprodução / G1

Vivemos uma campanha eleitoral cheia de altos e baixos, ataques, ofensas, armadilhas retóricas, golpes abaixo da cintura etc e tal. Enfim, teve de tudo. Tanto de tudo teve, que o nível de interesse da população nesta eleição foi inédito. Parece que esta campanha eleitoral mostrou um interesse maior da população pela política, especialmente entre os mais jovens, e consolidou a entrada da internet no processo de uma forma que não se viu em 2010.

O que fez essa eleição? O que fez essa campanha eleitoral? Ela produziu um jogo com uma taxa de polarização nunca vista antes, com ingredientes adicionais que só a internet e suas redes sociais poderiam imprimir. E a tendência é que ela se expanda, cada vez mais, nesse sentido. A parte boa desse processo, claro, é ainda uma hipótese, mas uma hipótese muito positiva de que, talvez, tenhamos um povo, que sai dessa eleição, com um interesse aumentado pelo assunto chamado política. Um interesse aumentado com uma taxa de senso crítico elevada também. Talvez esse tenha sido o ganho real que essa eleição produziu.

Por que isso? Porque uma sociedade politizada, atenta à política, não é necessariamente uma sociedade que faz o jogo dos políticos ou dos partidos. Mas sim uma sociedade que, sendo politizada, fará com que os políticos e os partidos façam o seu jogo, ou seja, mais do que tem feito até aqui. Tenho a esperança de que, não apenas uma nova geração de brasileiros jovens, como toda a sociedade, tenha se aproximado de forma permanente e crescente do assunto política.

Vejam, precisamos viver e fazer política como sociedade, porque se não fizermos, eles, como tem sido até agora, o farão sozinhos. E aí, farão como têm feito historicamente nas últimas 20 eleições. Pergunto a você ilustre eleitor-contribuinte o seguinte: Por que a política e os políticos no Uruguai, na Argentina e no Chile são diferentes? Por que nesses países a política não é como aqui no Brasil? Por que lá não é assim? Porque os uruguaios, os argentinos e os chilenos são povos politizados. Povos que têm na política algo que está incorporado em suas rotinas diárias. Eles sabem o quanto é importante que a política seja gerida pela sociedade, eles sabem o quanto é importante que a política seja ditada no ritmo e nos padrões impostos pela sociedade.