Imagem: Reprodução / VEJA.com |
O biógrafo do cantor Roberto Carlos, Paulo César de Araújo, assistiu ao especial sobre a vida de Tim Maia, exibido pela Globo, com indignação. Paulo falou à Rádio Estadão sobre os cortes feitos pela emissora para exibir o filme em dois episódios. Na edição da Globo, foram retiradas partes em que Tim aparecia sendo humilhado por Roberto no início de sua carreira. Algumas cenas do longa foram baseadas na obra de Paulo, Roberto Carlos em Detalhes, uma biografia do cantor proibida de ser vendida desde 2007.
O biógrafo, que lançou no ano passado o livro O Réu e o Rei (Companhia das Letras), em que narra sua disputa judicial com Roberto Carlos pela liberação da biografia assinada por ele, afirma que a emissora e o músico possuem um acordo, que a leva a protegê-lo, mantendo "limpa" sua image. "Isso acontece desde 1974, desde que o Roberto assinou o contrato com a Globo. Para além do especial que ele apresenta, eles têm um contrato também, pela forma que a Globo tem se comportado ao longo deste tempo, de preservar a imagem do Roberto Carlos. Isso não é um fato inédito. Isso sempre aconteceu. A Globo sempre procurou valorizar os aspectos positivos, que engradeçam o Roberto, e omitir e apagar o que pode prejudicar sua imagem. No livro O Réu e o Rei eu conto isso em detalhes."
"Quando Tim é preso em 1966, o Roberto já está no topo, já é consagrado, tinha lançado Quero que Tudo Vá Para o Inferno. É o auge da Jovem Guarda e o Tim Maia passa dez meses preso. Quando ele sai e vai atrás do Roberto, aí a turma do Roberto diz: 'Roberto, tem o Tião Maconheiro, presidiário, querendo falar com você'. É humano, é compreensível a reação do Roberto naquele momento, não estava nada definido para ele. Só para dizer que as coisas são mais complexas do que parecem. Não é que o Roberto barrou o Tim Maia, nem que ele tenha aberto todas as portas para ele", ameniza o escritor.
"Isso tem a ver com o nosso debate hoje no Brasil a respeito das biografias autorizadas. Essa visão que leva a desejar só biografias autorizadas. Essa visão autoritária, excludente, patrimonialista, de dizer a 'minha historia é um patrimônio meu', como disse o Roberto Carlos. Por que ele diz isso? Porque ele quer contar essa visão, cor de rosa, um passado sem conflitos, sem contradições. Por isso que essa ideia não pode prevalecer no Brasil, porque o resultado vai ser isso que vimos no especial da Globo".