O oficial foi acusado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de associação com o tráfico de drogas. Qualquer que seja seu desfecho, o caso não é simples. Se Beltrami for considerado culpado, a investigação terá contribuído para, mais uma vez, revelar o grau de corrupção na polícia. Implicará a necessidade de se reforçar a vigilância sobre os policiais e de se encarar a importância de uma política salarial digna para os que têm a obrigação de arriscar suas vidas por todos nós.
Baixos salários não justificam a corrupção, mas abrem caminho para atividades paralelas que, aos poucos, se revelam mais interessantes e lucrativas que o trabalho principal. O salário de um agente policial não pode ser tão absurdamente inferior ao poder que lhe é concedido pelo Estado. Ainda mais um Estado — e aqui falo do País como um todo — que se mostra pouco interessado em punir casos de corrupção explícita que se manifestam em instâncias superiores. O exemplo, para o bem e para o mal, vem de cima. Se a culpa do coronel não for comprovada, todo este episódio servirá para reiterar os problemas na condução de inquéritos policiais: não dá para medir o tamanho do dano provocado pela exposição pública de um inocente.
Mas, de cara, o prende-solta do oficial escancarou de vez a crise entre as polícias Civil e Militar. Para boa parte da PM, Beltrami é apenas a bola da vez nas infindáveis escaramuças entre as duas instituições. A disputa de poder leva a uma permanente tensão e a frequentes casos de sobreposição de funções — os perrengues são bons apenas para os que lucram com a disputa, aí incluídos os bandidos. A divisão de funções policiais, algo raro no mundo, apenas contribui para aumentar nossos problemas de segurança. O caso Beltrami, o Fla-Flu criado entre os que o acusam e o defendem, pode servir, ao menos, para o País estudar a derrubada de interesses corporativos e a trabalhar pela unificação das polícias.
Fernando Molica é jornalista e escritor