sábado, 28 de janeiro de 2012

TRAGÉDIA NO RIO: Especialistas alertam que falhas na fiscalização da Prefeitura deixam população em risco

Jornal do Brasil

RIO - Uma obra ilegal seria a mais provável causa do desabamento que levou ao chão três prédios no centro histórico do Rio de Janeiro, na última quarta-feira (25). Entre mortos e feridos, fica a triste lembrança de mais um desastre que se origina em irregularidades e falta de fiscalização. Desastres como este, infelizmente, estão deixando a categoria da exceção. Em outubro do ano passado, a explosão no restaurante Filé Carioca, também no Centro do Rio, deixou três mortos e 17 feridos; em agosto, um acidente em um parque de diversões em Vargem Grande, em que um dos brinquedos se desprendeu e atingiu o público, fez dois mortos e vários feridos. No fim do ano passado, mais um susto: um pedalinho em mau estado de conservação afundou na Lagoa Rodrigo de Freitas, deixando em pânico o casal que o usava. Tudo isso deixa evidente uma grave constatação: a fiscalização, que deveria impedir práticas irregulares, não vem cumprindo sua missão, deixando a população exposta a riscos.

O presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro, observa que este não é um problema específico do Rio.

“Não temos um sistema de fiscalização moderno. Lamentavelmente, há mais de 50 anos, a fiscalização vem sempre ligada a problemas de corrupção.

Por outro lado, Guerreiro destaca o papel da parte fiscalizada, que tem uma cultura de enganar, com o famoso “jeitinho brasileiro”.

“Fiscalizar de forma presencial é quase impossível, porque tem muita coisa para ser fiscalizada. Por outro lado, a nossa cultura é aquela de tentar enganar, sobretudo o poder público, e isso acontece desde as coisas mais banais até coisas mais perigosas, como obras feitas irregularmente”, diz ele.

O presidente do Clube de Engenharia, Manoel Lapa, acredita na força da fiscalização coletiva, e acha que ela deve ser estimulada. Manoel, no entanto, condena a falta de fiscalização em obras particulares. “O Brasil está muito atrasado em relação a fiscalização de obras particulares. O poder público deveria fiscalizar as obras sob o ponto de vista da estrutura, das instalações, da vizinhança, como acontece em grandes cidades como Londres e Paris”, analisa Manoel, que lembra que, com os próximos eventos esportivos, serão feitas cada vez mais obras no país.

Perguntado sobre o assunto, o prefeito Eduardo Paes garantiu que a Defesa Civil Municipal fiscaliza sistematicamente lugares que apresentam risco.

Matéria originalmente publicada no Jornal do Brasil