terça-feira, 29 de novembro de 2011

DESCASO!!! Família de paciente encontrado morto acusa Hospital Lourenço Jorge de negligência
Mais uma vítima do caos nos hospitais municipais do prefeito Eduardo Paespalhão
Extra Online

RIO - Aflita ao ver o marido, Wilson Gomes Barcelos, de 59 anos, sem conseguir dormir devido à falta de ar decorrente de um câncer pulmonar, Maria de Lourdes Vieira de Lima, de 47, resolveu chamar o Samu. O biscateiro foi atendido e levado para o Hospital municipal Lourenço Jorge, na Barra. O que a dona de casa não imaginava é que o companheiro seria mais uma vítima fatal da internação improvisada da enfermaria 999, como é chamado oficialmente um dos corredores da emergência — o nome consta de um documento emitido pela unidade, conforme o EXTRA revelou em agosto. Mesmo com eletrodos presos ao peito, sonda e até máscara de oxigênio, o biscateiro teria conseguido sair por uma janela sem ser incomodado por funcionários ou seguranças. E morreu em frente ao hospital.
A fuga teria ocorrido por volta das 3h30m de ontem — menos de 24 horas após o paciente ter sido internado numa maca no corredor. A família, no entanto, só ficou sabendo da morte de Wilson ao chegar para a visita, ao meio-dia.
— Ele deve ter ficado nervoso por eu não estar aqui com ele e tentou fugir. Mas não podiam ter deixado — disse Maria de Lourdes, chorando.
Segundo ela, Wilson fazia tratamento há cerca de quatro meses contra o câncer, no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (Fundão).

‘Falta de humanidade’

De acordo com o irmão de Wilson, o marceneiro Gilson Gomes Barcelos, de 58 anos, a família esteve com o paciente durante todo o domingo, e ele estava lúcido:
— Saímos do hospital às 18h40m e o deixamos bem, tranquilo. Não há explicação para deixarem um paciente sair assim. É descaso. É falta de humanidade e dignidade.
Segundo seguranças do hospital, que não quiseram se identificar, há 16 vigias no turno da tarde (7h às 19h) e oito na parte da noite. Mas eles dizem que não “prestam atenção” na movimentação dos pacientes.
— Só recebemos orientação para cuidar da parte do patrimônio do hospital — informou um funcionário.

‘Essa é a política da medicina de corredor’

Para o presidente da Comissão de Saúde da Câmara, vereador Carlos Eduardo (PSB), a fuga e a morte de Wilson Gomes Barcelos, na madrugada de ontem do Hospital Lourenço Jorge, são resultados da superlotação da unidade, segundo ele, sobrecarregada com o crescimento populacional da região:
— Enquanto outros bairros da cidade crescem 2%, Barra da Tijuca, Jacarepaguá e adjacências crescem 8%, segundo os últimos dados do IBGE.
Segundo Carlos Eduardo, atualmente a média de pessoas internadas no Lourenço Jorge é de 100 pacientes, enquanto a capacidade máxima seria de 40.
— Como, ainda mais com falta de pessoal, podem controlar todos esses pacientes? Essa é a política da medicina de corredor, que demonstra o caos na rede pública do Rio — afirma o vereador.