domingo, 21 de junho de 2015

'Jornal Nacional' fica informal para deter queda de audiência

O "Jornal Nacional", que dez anos atrás ainda marcava médias de audiência próximas dos 40 pontos, hoje está mais perto dos 20, na Grande São Paulo. O movimento, que acompanha o que se viu nos telejornais americanos, os grandes modelos do "JN", não apresenta sinais de reversão, pelo contrário. O esforço agora é para conter a velocidade da queda. Nesta segunda (27), após anos de experiência em outros noticiários da Globo, de regionais como "SPTV" a nacionais como "Hoje", chegou ao telejornal a informalidade dos apresentadores, que andam e conversam.

Imagem: Reprodução/Folha de S.Paulo
Sorriem mais, improvisam diálogos. E isso se dá ao longo de todo o programa, como novo padrão, seja para falar com um repórter nas ruas de São Paulo ou com correspondentes do outro lado do mundo, em Katmandu.

Longe da política, historicamente, foram as coberturas de grandes tragédias, nos anos 1960 e 1970, que estabeleceram o jornalismo de qualidade da Globo.

E agora as mudanças formais são acompanhadas por cobertura semelhante, ainda que o terremoto no Nepal seja mais difícil de aproximar do telespectador do que as enchentes no Rio, em 1966, ou os grandes incêndios do Andraus e do Joelma em São Paulo, em 1972 e 74.

Para conseguir emocionar o brasileiro com o que acontece em Katmandu, o "JN" contou com dois repórteres do programa "Planeta Extremo", Carol Barcellos e Clayton Conservani, por acaso no Nepal. E contou com novas ferramentas de tecnologia, para aproximá-los até fisicamente de Renata Vasconcellos e William Bonner. O maior impacto do novo "JN" foi a grande tela que permite aos dois apresentadores conversar ao vivo, como se estivessem juntos, no mesmo enquadramento, com jornalistas em outros continentes ou pelas ruas.

Bonner chegou a avisar o telespectador que seria "uma conversa com umas pausas", devido à distância. Mas o atraso no sinal foi mínimo, durante o diálogo com o Nepal e também nos outros do programa, o que facilitou a ilusão, reforçada ainda pela qualidade da imagem. A proximidade com a tragédia de Katmandu foi reforçada também pelo desespero de Barcellos com um tremor, em imagem recuperada do dia anterior, e principalmente pelo depoimento e pela emoção de duas jovens brasileiras que o jornalismo da Globo encontrou lá.

"Eu achei que ia morrer, amo vocês demais, pai, mãe", falou uma delas, entre lágrimas, logo seguida pela outra, também chorando. E minutos depois o "JN" ouviu, no Brasil, o pai e a mãe, eles também emocionados.

Com o drama humano tomando a tela, o programa nem precisou abusar de outra ferramenta de espetáculo que havia conseguido: as cenas de "um drone, um avião não tripulado", que mostravam o Nepal rasgado pelo terremoto –como nos filmes hollywoodianos "2012" e "A Falha de San Andreas".

O telejornal, na verdade, estreou tantas mudanças que só aos poucos será possível compreendê-las por inteiro. É o caso da nova apresentadora do tempo, Maria Júlia Coutinho, que estreou há quatro meses no "Hora Um" e chama a atenção, desde então, pela facilidade com que conversa, brinca. É ela quem aponta o futuro do "JN".

(Texto: Reprodução/Folha de S.Paulo)