domingo, 27 de julho de 2014

Mulher morre na UPA de Madureira e testemunhas alegam omissão de socorro

Familiares e testemunhas acusam um médico da unidade de omissão de socorro, após Luiza da Penha Cabral Baptista sofrer um enfarto dentro de um ônibus. O grupo alega que o médico de plantão apenas observou a paciente e disse que ela não iria resistir. Segundo um dos bombeiros, eles entraram pelos fundos e se encaminharam para a sala de emergências graves. O bombeiro disse ainda que o médico não prestou socorro: "Ele disse que não adiantaria porque ela não iria resistir. Ele mesmo sequer calçou luvas", disse o bombeiro. (O Dia)

Imagem: Reprodução / O Dia Online

— O Estado brasileiro e seus agentes são os grandes inimigos da sociedade. Não estou procurando criticar, especificamente, um político que controle aquele órgão ou aquela área de poder. O que estou criticando, única e exclusivamente, é a ausência ou a má qualidade do serviço público prestado. Essa prática, essa forma de agir, esse menosprezo e essa covardia tomaram conta do tecido estatal de uma forma que, pra você se deparar com um gesto de atenção e cuidado é algo muito raro.

Não são só os grandes tubarões do Estado brasileiro que se tornaram nossos inimigos. Lamentavelmente, não. Não é só a canalhice do senador, do deputado, do vereador, do prefeito e do governador. Isso aí, é o tecido do serviço público que está impregnado por um tipo de comportamento e de conduta que precisamos combater e denunciar.

Notem, isso não tem nada a ver com falta de estrutura, não tem nada a ver com salário baixo, não tem nada a ver com o volume de corrupção e corporativismo no setor, não tem nada a ver com nada disso. Isso tem a ver com problema de caráter, tem a ver com problema de humanidade, tem a ver com o ato individual e pessoal de não agir como um ser humano. Não temos que ficar achando apenas que é um problema dos políticos o mau tratamento que recebemos dos servidores públicos. Isso é um problema do servidor e das repartições públicas também. Eles têm que nos enxergar como semelhantes e não como uma espécie dependente dos favores deles. Tem que nos enxergar como patrões e não como escória que eles atendem quando bem entendem, quando querem e da forma que querem.

— Ah, mas eu sou um bom servidor público!
— Não me refiro a um caso isolado. É claro que temos incontáveis exemplos de dedicação e vocação ao serviço público. Mas, não é esse o comportamento predominante na educação, na saúde, na segurança, na gestão da burocracia, na Receita Federal e por aí vai. O corpo funcional do setor público está, profundamente, impregnado de desvios de conduta, inapetência e aversão ao serviço público.

Imagem: Reprodução / O Dia Online

O médico que nega socorro a um ser humano, não está agindo de acordo com a insensibilidade do governante. Ele está agindo de acordo com a maior ofensa que se pode fazer à essência da profissão que abraçou, que é a de salvar vidas. Cadê o Conselho Regional de Medicina? Cadê o Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro? Cadê esse antro do Ministério da Saúde? Cadê a Associação Médica Brasileira? Cadê as ilustres entidades que ficam discutindo a ética, os direitos e os deveres? Cadê? Cadê as entidades médicas numa hora dessas? Cadê?

Os hospitais públicos no Brasil não foram transformados em lixo apenas por causa da politização, da partidarização, das indicações políticas e da corrupção. Foram transformados em lixo, também, porque o corpo profissional dessas instituições, de alguma maneira, tem parte de culpa nessa história com atitudes como essa, por exemplo.