quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Após 60 anos na política, José Sarney anuncia aposentadoria

Seu primeiro cargo eletivo foi em 1955, como deputado federal. Depois foi governador do Maranhão e senador pelo Estado por três vezes consecutivas antes de chegar à Presidência da República, no lugar de Tancredo Neves, em 1985. Após o fim do mandato, ele voltou ao Senado: elegeu-se pelo Amapá nas eleições de 1990, 1998 e 2006. O parlamentar presidiu o Senado por quatro vezes. A última delas, entre 2011 e 2013. A passagem de Sarney pelo cargo foi marcada pelo escândalo dos atos secretos, quando a imprensa revelou a existência de nomeações e concessões de benefícios irregulares, que nunca foram tornadas públicas pelos órgãos oficiais do Senado. (VEJA.com)

Imagem: Reprodução / VEJA.com

— A forma com que o fato foi abordado por alguns veículos de imprensa, sinaliza uma reverência lamentável a essa figura que, pra mim, é o retrato mais perfeito e acabado do político brasileiro. Um homem que passou, segundo ele próprio, 60 anos na vida pública, que só fez atividades públicas, portanto, só esteve ligado ao setor público. Nele se criou, nele viveu e nele fez carreira. Um homem que, no setor público, empregou todos os seus parentes, amigos, correligionários, aliados etc e tal. O quase falecido José Sarney, assim como muitos políticos no Brasil, está milionário. Com um patrimônio impressionante, ele e seus filhos são donos de uma parte do país, o Maranhão.

Contrariando a tese Mujica de fazer política, Sarney e 99% dos políticos brasileiros conseguiram enriquecer na política. O pior é que isso não produz nenhuma contradição suficiente para bani-los da vida pública, antes que eles, por conta própria, decidam fazer isso aos '180 anos' de idade, como Sarney está fazendo agora.
Cercado de reverências à sua carreira política que foi, nada mais nada menos do que, o adesismo mais escancarado a tudo que pudesse estar no poder, Sarney foi um aliado fiel da ditadura militar no seu período mais obscuro, mais pavoroso e mais truculento. Sempre esteve ao lado dos ditadores fazendo, docemente, o papel que o governo opressor bem entendeu. Hoje, ele é um grande aliado do PT. Só transitou pelos corredores do adesismo do poder, do governo e da máquina pública para fazer de sua carreira o que fez de seu patrimônio.

Não há na percepção pública, e muito menos na mídia política do Brasil, nenhum questionamento de incompatibilidade entre o crescimento patrimonial dos políticos brasileiros e seus cargos públicos que, em tese, não propiciam o enriquecimento. Não estou falando do Sarney porque ele é um ponto fora da curva, não. José Sarney é, sem sombra de dúvidas, o ponto mais exemplar dessa curva imoral. Se vocês forem procurar em seus Estados e Municípios, irão constatar a impressionante evolução patrimonial dos governadores, prefeitos, vereadores e deputados de suas cidades. Vejam como evoluiu o patrimônio dessa gente e de seus familiares. Todos progridem patrimonialmente, e muito. Alguns têm apartamentos que o salário de um político jamais poderia comprar, por mais que ele "trabalhasse" mil anos. Aí, quando decidem deixar a vida pública aos '180 anos' de idade, são reverenciados pela mídia política e pela classe política.