Imagem: Reprodução/Observatório da Imprensa |
São essas, basicamente, as fontes de informação do cidadão comum, esteja ele vivendo no Brasil, na Europa ou nos Estados Unidos. É exatamente por isso, que este cidadão é tão mal informado. E por ser mal informado, acaba provido de convicções que interessam apenas aos poderosos de sempre.
HSBC, “pauta” sem interesse?
Nas duas últimas semanas, as redes sociais no Brasil e em alguns países da Europa têm denunciado o megaescândalo de lavagem de dinheiro na sucursal suíça do banco inglês HSBC. No entanto, para a chamada grande mídia brasileira, o assunto está passando em brancas nuvens. A “pauta” não teria interesse? Longe disso. Há suspeitas de que pelo menos oito mil ricaços brasileiros integram estas contas. O valor do desvio de recursos é da ordem R$ 20 bilhões, algo 10 vezes maior do que os recursos desviados na chamada “Operação Lava a Jato”, que envolve corrupção na Petrobras e é apontada pela mídia como “o maior escândalo da história do país”. Diante disso, por que a Lava a Jato é manchete há quase três meses e o megaescândalo do HSBC continua não sendo notícia?
Na Europa, o assunto tem dado origem a um salutar debate envolvendo a chamada liberdade de imprensa, com jornalistas e donos da mídia em conflito aberto. Enquanto profissionais de redação, como os do francês Le Monde e os do inglês Daily Telegraph, estão participando da investigação do escândalo, os proprietários acusam estes editores e repórteres de prejudicarem seus negócios. O único jornal que tem tido liberdade para cobrir o assunto tem sido o inglês The Guardian, uma exceção por ser administrado por uma fundação, e não por uma família ou grupo empresarial. Em outras palavras, nunca, de maneira tão aberta, proprietários de mídia deixaram claro quais são seus compromissos e a serviço de quem atuam.
No Brasil, as Organizações Globo, os jornais Folha de S.Paulo e Estado de S.Paulo insistem em ignorar o assunto. A população brasileira não tem direito de conhecer este tema? Onde fica a preocupação com o dinheiro público, com a ética e com o interesse do cidadão que estes veículos vivem bradando em seus editoriais, como já comentou Luciano Martins Costa neste Observatório? Sem dúvida a situação mais embaraçosa é a da Folha de S.Paulo, que participou da investigação sobre o HSBC coordenada pelo Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo, mas prefere a omissão porque o problema esbarrou nos seus interesses comerciais.
O caso HSBC tornou-se exemplar porque colocou na ordem do dia a falta de independência das redações diante dos interesses comerciais dos donos de empresas jornalísticas. Falta de independência que se é motivo de debate na Europa, é alvo de absoluto silêncio no Brasil. Qual jornalista ou comentarista brasileiro da grande mídia tem se colocado frontalmente contra esta manipulação? Mino Carta, Janio de Freitas e quem mais? A não-notícia do escândalo do HSBC não é um caso isolado. Lamentavelmente as não-notícias têm sido a regra. A mídia nacional e internacional coloca em evidência os assuntos sobre os quais têm interesse e abafa, esconde, não noticia o que não lhes convém. Senão vejamos.
(Texto: Reprodução/Observatório da Imprensa)