sexta-feira, 18 de novembro de 2011

POR QUE SERÁ? Batalhão que patrulhava a Rocinha apreendeu menos armas no primeiro semestre
Na comparação com o mesmo período de 2010, queda foi de 44,4%
O Globo

RIO - Policiais militares do 23º BPM (Leblon) — batalhão responsável pelo patrulhamento na Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu — registraram 18 apreensões de armas no primeiro semestre deste ano. O número é 44,4% inferior ao computado no mesmo período do ano passado, quando foram contabilizadas 26 apreensões, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). A análise das estatísticas oficiais coloca em xeque o desempenho da unidade, que já teve PMs investigados por suspeita de recebimento de “mensalão” do tráfico entre os anos de 2007 e 2009.

Após ter sido preso na noite da última quarta-feira, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, então chefe do tráfico na Rocinha, disse informalmente que metade do dinheiro arrecadado com a venda de drogas na comunidade era usado para pagar propina a policiais, que não reprimiam a ação dos bandidos.

Especialista em segurança pública, o coronel Milton Corrêa da Costa diz que a Rocinha era o principal entreposto de drogas da Zona Sul do Rio, que contava inclusive com laboratórios de refino de cocaína:

— Com a instalação das UPPs em comunidades da Zona Sul, os lucros da quadrilha de Nem aumentaram, pois a comunidade passou a receber a demanda de usuários, que compravam drogas nas áreas que passaram a ser patrulhadas por UPPs. Tal fato despertou ainda mais a atenção de policiais corruptos para o tráfico da Rocinha. Os baixos resultados, com a própria queda do número de armas apreendidas, numa área policial onde se localizava o quartel general de uma perigosa facção criminosa, demonstra claramente que Nem, como propriamente declarou, dividia os lucros do tráfico com policiais — acredita o coronel.

Para o especialista fica claro que Nem contava com um escudo de impunidade:

— Um cinturão de policiais corruptos que tornavam praticamente a Rocinha uma área de difícil êxito em operações policiais, onde ocorriam constantes vazamentos das operações, que veio à tona com a prisão de um inspetor da 12DP (Copacabana), acusado de vazar informações sobre uma operação policial no local. Se não houvesse pagamento de propina não tenho dúvida que os números de apreensões de armas e drogas naquela AISP seriam bem maiores. Nem tinha a certeza da impunidade pela propina paga a policiais, onde alguns lhes eram íntimos, fazendo a sua segurança — ressalta o coronel.

Perguntado sobre o assunto, o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, afirmou que ainda não analisou os números:
-— Ainda não analisei os números, mas os equipamentos criminosos estão basicamente dentro dessa área.