sexta-feira, 28 de outubro de 2011

ÓTIMO: Presa quadrilha de agiotas que atuava em 60 escritórios no Rio e em Minas Gerais
O Dia Online

RIO - A quadrilha de agiotas desarticulada pela Polícia Civil atuava com cerca de 60 escritórios. Em coletiva realizada nesta sexta-feira, o delegado-adjunto da 19ª DP (Tijuca), Leonardo Luís Macharet, afirmou que o lucro mensal do grupo, que agia há pelo menos cinco anos, seria superior a R$ 1 milhão por mês.

Acusados presos escondem os rostos. Grupo agia em oito municípios em todo o estado
"Com mais escritórios a arrecadação do bando era ainda maior", afirmou Leonardo, que apontou a quadrilha como a maior do Rio de Janeiro. O grupo agia principalmente no Rio, mas já se expandia para Minas Gerais.

A polícia apresentou R$ 1 milhão encontrado embaixo da cama do homem suspeito de chefiar o bando, Clenilson Gomes, na Barra da Tijuca. O número de R$ 3 milhões seria, segundo a polícia, a arrecadação total na operação. Ele usaria imóveis, estacionamentos e até uma escola no Nordeste para a lavagem de dinheiro.

Os agiotas contavam, inclusive, com uma espécie de ‘sala do pânico’, com paredes e teto revestidos de material especial para abafar o som dos gritos. Nesta quinta-feira, quinze pessoas foram presas, sendo dois policiais militares. Seis ainda estão foragidas. O grupo agia em oito municípios — entre capital, Baixada e região metropolitana — com mais de mil clientes e cobrando taxas de até 48% nos empréstimos.

Além do escritório remeter ao filme ‘Quarto do Pânico’ — no qual família ficou refém de bandidos —, o cinema serviu também de inspiração para o nome da operação, batizada de Shylock por causa do nome do personagem de um agiota no filme ‘O Mercador de Veneza’. Ao todo, foram expedidos 18 mandados de prisão e 12 foram cumpridos. Três pessoas foram presas em flagrante em casas e escritórios do esquema.

A ‘Sala do Medo’ ficava no Centro de Niterói. O imóvel não tinha janela nem muitos móveis, apenas um telefone, onde eram feitas as ameaças, muitas vezes, de morte. “Parecia um estúdio musical. A intenção era de que os vizinhos não escutassem os gritos”, revelou o delegado Marcos André Buss, adjunto da 19ª DP (Tijuca). Não foi detectado caso de homicídio envolvendo o grupo, mas as investigações vão continuar.

Cobradores dos agiotas iam a casas de clientes e levaram eletrodomésticos e bens pessoais como parte da dívida. Um deles fez até música com ameaças.

Mulher pegou R$ 290 e teve que pagar total de R$ 2.304

Foram mais de 8 meses de investigações, iniciadas na 19ª DP (Tijuca), bairro onde foi detectada a ação mais intensa do bando. As vítimas chegavam até os agiotas por panfletos entregues nas ruas. Após análise de crédito, elas recebiam o empréstimo e começava a pagar cada mês com juros mais altos.

“Se a vítima tentava quitar a dívida, os agiotas aumentavam os juros”, revelou o delegado titular da 19ªDP, Nilton Fabiano Lessa. Em um dos casos, uma senhora que pediu R$ 290 de empréstimo teve que pagar durante dois anos R$ 96 por mês, totalizando R$ 2.304.

“Ficamos impressionados com a alta movimentação financeira”, revelou a chefe da Polícia Civil, Martha Rocha. A quadrilha estava expandindo seus escritórios para Natal, no RioGrande do Norte, e já atuava também em Juiz de Fora, em Minas Gerais.

Os presos irão responder por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, crime contra a economia popular e extorsão. Policiais de 31 delegacias, entre especializadas e distritais, e duas equipes da Corregedoria Geral Unificada (CGU) participam da ação.

Na Rua Baltazar Pessoas, São Gonçalo, Saulo José dos Santos e Glícia de Almeida foram presos em casa duplex com piscina e churrasqueira. Picape blindada e Corolla foram encontrados no local. Dois carros, dois cofres, joias e documentos foram apreendidos.

Trechos de ameaças por telefone

Agiota: “Pegou tem que pagar senão o bonde brota. Seu tempo passou, ‘nós vai’ pedalar sua porta. Nunca confunda idiota com agiota.”
Agiota: “Fica de gracinha, pego seu filho e arrebento! Até sexta você arruma quanto?”
Devedor: “Como é que a gente pode fazer acordo pra pagar o dinheiro?”