sexta-feira, 10 de maio de 2013

BANDIDOS FARDADOS: PMs são flagrados extorquindo dinheiro de motoristas em blitz

As corporações policiais no Rio de Janeiro estão fora de controle, no que diz respeito a violência e o desvio de conduta. Se a luz do dia fazem isso, imagina num beco ou rua escura! Uma autoridade, seja ela qual for, não pode cometer delito. Senão, pra que serve a instituição?

Imagem: Reprodução / Jornal Extra

Dia 3 de outubro, às 16h, os cabos Rogério Jardim de Assis, Wellington Moises Melo de Oliveira e Bruno Oliveira da Silva, do 41º BPM (Irajá) param um motorista, na Estrada do Camboatá, em Guadalupe. Com carro irregular, lhe é exigido R$ 50 para a sua liberação. O motorista, então, apresenta uma nota de R$ 100 e, parado, espera R$ 50 de volta. Neste momento, um dos PMs pergunta: “Já viu policial dar troco?”. Diante da contestação da vítima, o militar entrega R$ 20 e questionou: “Tá bom assim?" — resultando no valor total de R$ 80 de propina.


O flagrante faz parte da investigação da Corregedoria da corporação, que resultou em um processo que tramita na Auditoria Militar. Quatro cabos, três soldados e um terceiro-sargento — todos lotados no 41º BPM — são acusados de concussão — por terem exigido dinheiro de motoristas que estavam com irregularidades nos veículos ou na documentação.

Os PMs foram pegos em quatro operações (blitz) feitas à luz do dia, em duas ruas movimentadas da Zona Norte, em vídeos feitos pela própria corporação. A prisão deles, no entanto, foi indeferida pela Justiça e, agora, o Ministério Público espera tomar ciência do despacho para recorrer da decisão. A partir de hoje, eles irão responder ao Conselho Disciplina, trabalharão administrativamente e terão porte de arma e carteira funcional cassados até a conclusão do processo.

De acordo com a denúncia do MP, depois de abordados, os motoristas confessaram a Corregedoria que pagaram propinas. Os flagrantes foram feitos nos dias 4 de setembro e 3 de outubro, na Estrada do Camboatá, em Guadalupe; e nos dias 10 e 25 de setembro, na Rua Alcobaça, em Anchieta. Nas quatro ocasiões, os policiais atuaram da mesma forma: abordavam os carros e, ao perceberem que os motoristas não tinham habilitação, IPVA pago ou vistoria anual feita, exigiam certa quantia para a liberação.

— É a famosa política do cafezinho, que tem que acabar. Os policiais não podem cobrar e as pessoas não podem pagar — resumiu o promotor Bruno dos Santos Guimarães, da Auditoria Militar.

No dia 4 de setembro, o terceiro-sargento Edmilson Carrarini Leal, o cabo Júlio César dos Santos Pereira e o soldado Hugo Luiz Barbosa Camargo abordaram um motorista com licenciamento atrasado, em frente ao Atlético Clube Nacional. Foi exigido R$ 40, mas a vítima disse ter apenas R$ 20. Informado que era pouco, pegou o resto com a mãe. Seis dias mais tarde, um motorista não habilitado foi parado pelos mesmos PMs. Ao informar que não tinha os R$ 50 pedidos, foi a um caixa eletrônico e, ao voltar, entregou o valor.

No dia 25 de setembro, os cabos Rogério Jardim de Assis e Bruno de Oliveira Silva e os soldados Jonatham Soares Lucas e Jonas Amorim Pinto pararam um motorista de van e constataram, erradamente, que sua habilitação era falsa. Os militares algemaram a vítima por 40 minutos e o colocaram dentro da viatura. O dono da van foi chamado e pagou, segundo o motorista, R$ 170. O motorista ainda deu os únicos R$ 10 que tinha na carteira.

Entrevista: Bruno dos Santos Guimarães - Promotor de Justiça

As imagens surpreendem?

Não surpreendem. A gente sabe que isso acontece com frequência, infelizmente. A diferença é que a Corregedoria quer pegar isso (as irregularidades). Mas moro no Rio de Janeiro e, como todo carioca, conheço bem a Polícia Militar.

Matéria originalmente publicada no Extra Online