quinta-feira, 19 de julho de 2012

EFEITO UPP: Denúncias sobre migração de bandidos para o Morro do Preventório, em Niterói, crescem mais de 1.400%

A fuga de traficantes estaria ocorrendo à medida que avança a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio


RIO - De comunidade pacata, morada de pescadores e trabalhadores de estaleiros, à favela mais populosa de Niterói, agora às voltas com a violência do tráfico de drogas. A transformação no Morro do Prenventório, em Charitas, nos últimos anos, pôs a favela em evidência. A onda de violência em Niterói fez o comando do 12º Batalhão da Polícia Militar decidir que vai instalar até a próxima segunda-feira um posto de comando móvel na comunidade. Apontado como um dos destinos de traficantes que fugiram da Mangueira após o início da pacificação, o Preventório experimenta um aumento do número de denúncias sobre a ação de bandidos. De acordo com relatório do Disque-Denúncia, em 2009, foram apenas cinco ligações relacionadas a tráfico na favela. Em 2010, 18. No ano passado, um salto preocupante de mais de 1.400%: 272 denúncias.

Apenas de janeiro deste ano ao último dia 5, o serviço recebeu outros 126 relatos sobre tráfico na comunidade. Desde o fim de 2010, moradores alertam sobre a chegada de traficantes não só da Mangueira, mas também do Morro do Jacaré e de Manguinhos. A migração estaria ocorrendo à medida que avança a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio.

Do fim de 2011 para o início deste ano, o clima se tornou ainda mais tenso. As denúncias que chegam dão conta de que traficantes da Rocinha, de uma facção rival à que domina o Preventório, estariam tentando invadir o local.

Delegado da 79ª DP (Charitas), Marcus Maia confirma uma mudança no perfil da favela nos últimos dois anos. Segundo ele, o tráfico no local era de pequeno porte, mas se fortaleceu recentemente. Mas ele afirma não ter elementos que confirmem a migração de bandidos do Rio. O chefe do tráfico, lembra, é da própria favela, Danilo Soares dos Santos, conhecido como Bocão, que está sendo procurado.

— O Preventório era uma grande vila de pescadores, com um tráfico "formiguinha". Mas nunca houve tantas denúncias sobre o Preventório quanto agora. O volume de informações aumentou. Falam do tráfico, e também do roubo a transeuntes, por exemplo. Mas passa longe da violência que costumamos ver no Rio. Aqui não há zonas de exclusão, lugares onde ninguém vai, como na capital — disse o delegado. — O que mais nos preocupa são os casos recentes de violência. Não são normais na cidade. E estamos empenhados em resolvê-los.

Já durante bailes funk nos fins de semana, dizem as denúncias, as ruas são obstruídas com barricadas feitas com troncos e entulhos. Além disso, menores seriam recrutados para o crime; famílias que colaboram com o tráfico receberiam cestas básicas e dinheiro; e traficantes roubariam carros e residências em bairros vizinhos como Charitas, Jurujuba e São Francisco.

Matéria originalmente publicada no Globo Online