quinta-feira, 19 de julho de 2012

O ESQUEMA CONTINUA: Troca de comando na Delta não garante independência


RIO - Segundo analistas do mercado de capitais, a troca de comando da Delta seria uma tentativa da empresa sinalizar que sua auditoria interna terá liberdade para investigar as práticas da companhia e que não haveria atos a serem temidos dentro da empresa. Para especialistas, no entanto, como Fernando Cavendish permanece controlador da Delta, não existia uma garantia de que os novos gestores da empresa serão independentes na tomada de decisões e na condução dessas investigações.

Especialistas acrescentam que a dependência da Delta de financiamentos do setor privado é limitado. O dinheiro público recebido de obras, liberado gradativamenteà medida que os empreendimentos avançam, seria a fonte mais importantes dos recursos da companhia. Tradicionalmente, o mercado teme empresas com esse perfil. Mudanças de governos poderiam provocar, por exemplo, dificuldades para assinatura de novos contratos.

Diferentemente de algumas outras construtoras, a Delta não faz emissões de títulos privados no mercado de capitais. A Odebrecht, por exemplo, faz emissões esporádicas desses papéis para levantar recursos.

Além da dependência de contratos com o setor público, o mercado tem restrições sobre o que seria o “modelo de negócios” da empresa: a Delta fecharia contratos por valores extremamente competitivos, abaixo da média do mercado brasileiro. Com o decorrer da obra, porém, ela tenta renegociar os valores envolvidos no contrato, alegando motivos técnicos.

O sócio de um banco de médio porte do Rio alerta que, embora o mercado olhe com desconfiança empresas que focam atuação em contratos com o governo, seria pior para credores privados da Delta ver a companhia entrar em falência.

— Se a empresa falir, ela vai falir com o dinheiro de quem financiou o caixa dela. É uma saída pior para bancos privados, portanto, estancar as linhas de crédito privado para a empresa — disse o executivo. — Sem provar inocência, o caminho da Delta será trocar de dono ou simplesmente falir.

Matéria originalmente publicada no Globo Online