quinta-feira, 19 de julho de 2012

TRAGÉDIA NA SERRA: 'Quando a sirene funcionou, o corpo da minha filha já estava lá embaixo', diz mãe de vítima

O fato é que nem o governador Sérgio Cabral e nem o prefeito de Teresópolis nada fizeram depois das chuvas que mataram mais de 900 pessoas em janeiro de 2011


Rio - ‘Quando a sirene tocou, o corpo da minha filha estava lá embaixo”, lembra Rosane de Souza Gouveia, um dia após enterrar Joice Rosa de Araújo, sua filha de 16 anos, soterrada em deslizamento sexta-feira na porta de casa, no bairro Quinta Lebrão, em Teresópolis. Ontem, ela retornou ao local da tragédia para buscar roupas. À tarde, voltou a chover no município e outros pontos do estado. A Serra continua em estado de alerta.

“Choveu forte, caiu a barreira e só quando a chuva ficou fraca, a sirene tocou”, conta Rosane. Joice chegava em casa quando foi surpreendida com avalanche de terra. Segundo a mãe, o imóvel foi vistoriado pela Defesa Civil Municipal após as chuvas que devastaram a Serra em janeiro de 2011, deixando mais de 900 mortos, mas não foi interditado.

IMÓVEIS INTERDITADOS

Ao todo, há 10 bairros com pontos de deslizamento e alagamento: 379 imóveis foram interditados. Doze escolas — 10 alagadas e duas que servem como apoio para vítimas — não abriram ontem. Além de Joice, mais quatro pessoas morreram e 24 ficaram feridas nos deslizamentos em Teresópolis desde a noite de sexta. A Secretaria Estadual de Assistência Social já estima que 200 pessoas não terão como voltar para suas casas e precisarão do aluguel social.

Nesta segunda, voltou a chover na Serra. A previsão é de que a manhã seja de sol com pancadas de chuva à tarde e à noite. A Cruz Vermelha enviou paraTeresópolis água mineral, alimentos não-perecíveis e colchonetes. O estado enviou kits com camas, colchões, TVs e panelas para desalojados.

Milhões gastos com aluguel

Desde as chuvas de janeiro de 2011 até hoje, nenhum imóvel foi construído para famílias desabrigadas. Cerca de 11 mil pessoas ainda recebem aluguel social e já foram gastos mais de R$ 15 milhões com o pagamento do benefício.

Em janeiro, a União liberou R$ 331, 6 milhões para obras na Região Serrana, mas o dinheiro ainda está parado. A promessa é de que R$ 81 milhões sejam gastos em contenção de encostas em Friburgo e Teresópolis. Elas devem começar ainda este semestre. O resto do investimento, R$ 250 milhões repassados ao Inea, serão para obras de dragagem, canalização e construção de barragens.

Com R$ 147 milhões em recursos próprios, o estado está fazendo obras de contenção de encostas em 27 pontos da Região Serrana.

Matéria originalmente publicada no jornal O Dia Online